Rodrigo Patrocínio

Minha relação com a fotografia começou em 2006 quando troquei um celular por uma câmera fotográfica. Nesse ano, duas coisas se iniciavam na minha trajetória, a primeira é o interesse em viajar de bicicleta, e a segunda a minha inserção no curso de Ciências Sociais da UFC. Nesse tripé, comecei a sentir o mundo sobre o balanço dos pneus e as imagens que iam-se construindo ao meu redor. A fotografia, para mim, se inicia aí, não só como meio de congelar um recorte do real, mas como jogo entre mundos do fotógrafo e suas relações de interesses. Confesso que nesses caminhos, muitas vezes houveram crises dessas relações. A vida é sensível, e parafraseando Guimarães Rosa, viver é muito perigoso.
No Interior De Nós

Entre cidade e sertão resiste um continente de costumes, desejos e tradições. O interior se territorializa no calor do asfalto. Tem sertão nos semáforos que abrem e fecham apressados: no “Chiquim do Frontero”, no “Bar do amado”, nas letras do “Vendemos carne, costela, fígado”, ou simplesmente no fumo do vaqueiro a baforar vias de passagem. A efígie do homem que mira a fresta da porta encarnada, ateia a pele de quem vê.
As imagens são ardis de montagem. Apenas mexe quem vê com o corpo inteiro. Não se conta uma vida afora a experiência tátil. O algodão doce prega nos dedos o azul e o rosa. Lambe-se os resíduos da memória. O corpo do fotógrafo se estica e se contrai, interpela restolhos banais do cotidiano.

Retratos marginais da Festa de São Pedro (Mucuripe-2019)

A festa de São Pedro, no bairro Mucuripe em Fortaleza é tradicional, entretanto vem perdendo suas características com o tempo e o incentivo financeiro do município.
O percurso narrativo desse ensaio está imbricado sobre as memórias dos personagens que vivem o local, longe da superficialidade e ritualística da Igreja Católica para a festa. Os personagens em questão, são marginais à festa, convivem com suas memórias e estão presentes, sendo eles: pescadores, tratadores de peixe, ambulantes, bêbados.

Retratos Marginais da Festa de São Pedro inverte o interesse da festa em si, para quem a compõe sem fazer parte dela, fazendo.