Paula Georgia Fernandes
Sublimes Peregrinos
Por Paula Geórgia Fernandes
O Santo Sepulcro, na cidadela sagrada de Juazeiro do Norte, é a última fronteira da religiosidade popular no Brasil. Lugar de espinhos e pedras. Refúgio dos iniciados nas Utopias do Espírito Santo e na espera da Terceira Era – um tempo de justiça e igualdade, de fartura e bem-aventurança. Feito um oroboro (a cobra que morde o rabo e ainda se contorce fazendo um 8 deitado), nesse espaço multifacetado e atemporal, estão a morte e a vida, em seus segredos cósmicos, em que tudo é movimento e impermanência.
A sobreposição de camadas de imagens,revela (como em uma cebola transparente) as peles sobrepostas e manifestas dos mitos, dos arquétipos, dos fantasmas – imagens e sombras de muitos tempos, que revisitam a contemporaneidade e usam os homens e as mulheres reais (os peregrinos) como cavalos das almas antigas, dos espíritos índios encantados e dos orixás.
Nessas fotografias de janelas abertas entre mundos, mesmo a imagem congelada busca o movimento por meio da imaginação e da sua vontade de alcançar o mistério daquilo que ousa capturar. O que a razão não explica, a alma inquieta-se em traduzir, na forma de sentimentos. Aqui, a matéria existe como emanação do espírito e torna-se transparente para que sejam decifrados os enigmas perdidos dos deuses e das deusas antigas, manifestos em humanidade. Tais imagens nos convidam a ser um eremita na solidão do deserto e a buscar na alma purificada pelo silêncio, a essência das pedras.