Osmar Gonçalves

Fotógrafo, professor e pesquisador paulista, reside há 11 anos no Ceará. É ganhador do prêmio FUNARTE de Produção em Artes Visuais (2013), do Universal CNPq (2016) e do PrixPhoto Aliança Francesa (2019). Participou das exposições: Mutierte Bilder (2009), Encontros de Agosto (2016), Festival Verbo Ver (2018), Fotofestival Solar (2018) e Fotosururu (2019), no qual ganhou Menção Honrosa. Pós-doutor em Cinema e Arte Contemporânea pela Universidade Sorbonne-Nouvelle (Paris 3), doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), no Instituto de Cultura e Arte (ICA) e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM-UFC), onde atua orientando projetos no campo da fotografia e do audiovisual. É diretor científico da Compós (Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação) e líder do IMAGO – Laboratório de Estudos de Estética e Imagem. Foi curador da exposição fotográfica “Novos Olhares na Fotografia Contemporânea” (CCBNB, 2016) e fez parte da comissão de seleção de projetos do XII Edital Ceará Cinema e Vídeo da Secult (2015). Publicou os livros: “Narrativas Sensoriais: ensaios sobre cinema e arte contemporânea” (Circuito, 2014) e, junto com Susana Dobal, “Fotografia Contemporânea: fronteiras e transgressões” (Casa das Musas, 2013).
A SOBREVIVÊNCIA DOS VAGALUMES

Esta série surge de uma questão primordial: afinal, quais são os limites e as fronteiras dentro da cidade? Para quem ela vem sendo pensada e construída hoje? Desde 2014, tenho viajado por diversas cidades da América Latina fotografando as ruas à noite e, em cada uma delas, me surpreendo com o grande número de ambulantes povoando as praças, ocupando as calçadas, disputando cada centímetro vago nas esquinas. Envoltos na penumbra, eles emergem como vagalumes, como pequenos seres luminescentes, erráticos que, por meio de seus gestos nômades, afirmam outros modos de compreensão da cidade, outras formas de viver e praticar o espaço urbano. É que diante dos projetos de urbanização atuais, marcados pela gentrificação, pela assepsia e espetacularização dos espaços, os ambulantes surgem como forças de resistência, como pequenas insurgências a nos oferecer um tipo de experiência desviante, que desorganizam as fronteiras, subvertem as linhas demarcatórias do espaço urbano, reafirmando usos mais lentos e coletivos da cidade.

FLYING KICKS

“As coisas não querem mais ser vistas por pessoas
razoáveis. E las desejam ser olhadas de azul – que
nem uma criança que você olha de ave”.
(Manoel de Barros)

Nos EUA dos anos 1970, jovens da periferia começam a
pendurar tênis nos fios de alta tensão como uma forma de
demarcar território, de sinalizar os limites entre determinadas
comunidades, gangues e facções. Um gesto político, portanto:
um modo de apropriação e de controle do espaço. Mas, ao
mesmo tempo, um gesto poético, uma maneira de reinventar, de
transfigurar as cidades. Algo que foi feito inicialmente para
estar no chão, aparece de repente flutuando no espaço,
reiventando a paisagem, criando novas escrituras urbanas –
uma espécie de grafite aéreo!
Nesta série, somos convidados a olhar pra cima e a prestar
atenção em pequenos gestos, em detalhes mínimos. Sob o
fundo branco composto pelas nuvens, um jogo de linhas e
formas se destaca, fazendo emergir uma cidade
plástica/gráfica, a poesia na superfície mesma do banal.