Marília Camelo
No ensaio “Touch” (2016), o ato de tocar alguém é uma representação estética da intimidade criada entre o fotógrafo e o fotografado durante a realização de um retrato. Ambos tornam-se um por alguns instantes; parceiros conectados somente pela câmera. A confiança entre os personagens é necessária, uma vez que um retrato é um acordo mútuo: é uma conexão de troca.
Assim, comecei a investigar o processo de produção do retrato. Com composições planejadas e dirigidas por mim, como aconteceria em qualquer ensaio, usei luz natural e uma câmera analógica 35mm para abordar pessoas desconhecidas, aleatoriamente na rua.
O resultado final desta experiência pode ser interpretado de acordo com as vivências e sentimentos individuais de cada um. Do meu ponto de vista, a experiência foi desafiadora e ambígua.
Passados quatro anos da produção da obra “Touch”, em meio aos primeiros meses de uma pandemia na qual ainda havia muita desinformação e medo; onde uma das principais medidas de proteção é justamente o não-tocar, rememoro e ressignifico o ensaio-performance que consistia em retratar pessoas desconhecidas enquanto eu as tocava em seus rostos. Aqui, não há mais o outro para concretizar a conexão de um retrato , apenas o vazio e a solidão do isolamento. Assim, são apresentadas apenas as minhas próprias mãos, num misto de desejo e medo ao imaginar tocar o outro.