Iana Soares
O ensaio “A foto que falta” é um caminho para iluminar a esperança em meio a tragédias, medos e solidão. Não se trata de eliminar dimensões fundamentais da existência, e sim de fazer ver territórios de conflito e jogo. São criadas estratégias para perceber as vidas dentro de uma mesma vida, um mundo dentro deste mundo, por meio de um olhar subjetivo e carinhoso. Investigo uma poética pessoal que vá além da informação e da documentação tradicional. Busco a magia do cotidiano, o assombro e a surpresa frente ao banal e à possibilidade do extraordinário. Nessa investigação, é possível arriscar sentidos e mergulhar entre memórias e imaginações. A deriva é parte fundamental do processo. Estar em movimento. É na caminhada que se encontram paisagens íntimas, como sugere Ítalo Calvino, em As Cidades Invisíveis: “de uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas. Ou as perguntas que nos colocamos para nos obrigar a responder, como Tebas na boca da Esfinge”.
A partir de uma crônica homônima que escrevi, imagino paisagens que possam transmutar experiências, criando aproximações entre a fotografia e a literatura. Há 70 milhões de anos, duas placas tectônicas se chocaram e formaram a cordilheira do Himalaia. De acordo com um provérbio hindu, assim como o orvalho seca com a luz da manhã, também somem as preocupações do homem ao ver o Himalaia. Eu nunca vi, mas a informação de que o relevo continua crescendo um centímetro a cada ano, em média, foi a poesia que quase salvou meus dias. Se por um lado há um processo constante de erosão que busca apequenar as montanhas, por outro um movimento segue tensionando as duas placas (podemos entender como corpos, ideias, vidas). O choque inicial começou quando não havia um ser humano sobre a Terra e ainda gera uma força incrível. A matemática final implica sempre em crescimento, apesar da gravidade, dos ventos, do tempo, de tudo.