Fernanda Siebra

Fernanda Siebra é fotógrafa e jornalista. Graduada em Jornalismo, atuou como fotojornalista e realizadora de conteúdos audiovisuais no Sistema Verdes Mares, onde ocupou o cargo de editora do Núcleo de Audiovisual do SVM. Trabalhou ainda junto ao El País. Desenvolve um trabalho de caráter documental sobre as romarias de Juazeiro do Norte. Durante período pandêmico, intensificou a produção dos trabalhos com colagens analógicas. Expôs em 2018, o trabalho “Bem Ditos”, na exposição Miragem do Festival Solar, utilizando a mesma linguagem. Gosta de pensar fotografia para além de duas dimensões.
BEM DITO

BEM DITO é uma série de fotografias intervencionadas com colagens de trechos bíblicos que surge com o objetivo de abordar a devoção de romeiros ao Pe. Cícero de Juazeiro do Norte, Ceará.

(Pe. Cícero conquistou grande parte de seus devotos depois da celebração de uma missa em 1889, onde uma mulher recebeu a comunhão de suas mãos e declarou que a hóstia havia se transformado em sangue em sua boca. Muitos chamaram de milagre, mas o Vaticano não reconheceu o fato e suspendeu o Padre Cícero do exercício do sacerdócio. Isso não impediu que a população local continuasse acreditando e transformando Juazeiro do Norte em um lugar de peregrinação.)

Tendo como inquietação a ideia de um “santo” santificado pelo povo e não pela Igreja, BEM DITO – que se inicia enquanto registro fotográfico documental, durante alguns anos acompanhando romarias – passa a ter intervenções de colagens de escritos bíblicos.

A proposta é que esse espaço de ausência (entende-se por ausência o não reconhecimento, por parte da Igreja Católica, dessa santidade) é preenchido pela fé dos romeiros.

Os textos bíblicos se destacam ainda pela gramatura fina do papel, destoando do papel fotográfico. O próprio suporte sugere uma leitura de fragilidade nos registros. BEM DITO busca investigar a relação de fé entre os Romeiros e o Pe. Cícero -não- santificado.

Olimp(i)o

O Maracatu é uma sólida cultura brasileira africanista. É defesa, resistência e preservação da cultura afro-brasileira.
Quatro anos antes da Lei Áurea, no dia 25 de março de 1884, o Ceará se tornou a primeira província a decretar, oficialmente, o fim da escravidão no Brasil. Talvez, por essa precocidade, possui um desenvolvimento tão amplo do Maracatu. Em meados dos anos 1930, o Maracatu se desloca para o carnaval de rua de Fortaleza, ganhando como palco, a Avenida Domingos Olímpio.

A proposta do trabalho Olimp(i)o é a narrativa dessa passagem durante as apresentações do Maracatu a partir de fotografias instantâneas que remontam
essa avenida.
A instantaneidade da imagem fala desse espaço que se torna sacro -e daí o título Olimp(i)o trazendo a lembrança do Monte Olimpo, espaço de morada de Deuses Gregos- durante os desfiles, e que se faz simples rua de tráfego após o fim do carnaval.
Interessa ainda o caráter de transformação da imagem instantânea. Nos transformamos, somos retintos, e nem por isso menos reais, assim como o negror da fuligem dos brincantes não é falso -surge como um recurso da imagem para mostrar que somos mais africanos do que aparentamos ser.

A Avenida enquanto uma aula da antropologia a céu aberto.