Beto Skeff

Quando vi o mundo, pela primeira vez, era Sertão, bem no meio do Ceará. Pelas varandas das casas de Quixeramobim, aprendi a gostar de histórias – de ouvir e de contar. Anos após ao chegar a capital, participei do curso de Fotografia da Casa Amarela Eusélio Oliveira, onde descobri nessa linguagem uma forma de elaborar narrativas visuais. Estudei Design, com o desejo de aliar esses conhecimentos aos do campo da imagem. Participei de exposições coletivas por todo o país, entre elas: Encontros de Agosto, Festival Verbo Ver, Paraty em Foco, Festival de Fotografia de Tiradentes, Festival de Paranapiacaba, Prêmio Diário Contemporâneo, Encontros da Imagem, esse último em Braga, Portugal. Atualmente, sou Diretor Executivo do Ifoto/CE.
Corpo da Fé

Para descrever um corpo é necessário primeiro perceber a sua presença: o arrastar das chinelas, o calor percorrendo a pele, o olhar seco da paisagem que acompanha as falas que acontecem por dentro. Mais de um milhão de faces, corpos em movimento, o Corpo da Fé. Esta substância fluida cria e recria fronteiras que se contraem e se dilatam com a sua passagem, como ventres que respiram juntos um sopro de vida que alimenta o caminho do Santo Sepulcro.
O Corpo da Fé é fronteira entre o efêmero e a perenidade. Afirmar isso é abraçar ainda mais sua natureza imprecisa, porosa, sendo essa indefinição justamente o que lhe permite reunir deslocamentos de origens tão diversas em torno de uma mesma busca, que deixa rastros de desejo e de gratidão. Essas jornadas atravessam o tempo, somando caminhos e passos, erodindo e edificando objetos de devoção.
Compreender essas rotas, também como pontos de encontro e de partilha, é perceber que essa devoção está em constante movimento, elaborando fala por fala, corpo a corpo, a imaterialidade pulsante da fé, que se faz como exercício do desejo, um desejo de realização, que provoca percursos entre presente e futuro, físico e espiritual.

Doces desejos de fôlego

“Doces desejos de fôlego” é um relato que pretende abordar a relação do sertanejo com a água, além da escassez. O devir das águas, das lágrimas às chuvas. Uma tentativa de deslocar a fotografia de uma zona classificatória: ora documental, ora ficcional, ora de natureza indefinida, sempre respeitando a vontade de descrever e compartilhar memórias e ânsias, que só o distanciamento da origem possibilita. Um olhar que busca reencontrar o menino do interior e que reflete o brilho dos olhos das mulheres e mães do sertão – em especial Dona Tieta, minha mãe.